Me apaixonei por artes bem cedo. Também das artes rebuscadas, fruto de uma inspiração e execução tão perfeitas que a poucos cabe empreender. Falo com mais ênfase aqui da arte de juntar pedaços de coisas soltas e diversas e tentar achar uma nova forma. A manga de uma blusa, a perna de uma calça... recorta aqui e ali e de repente forma-se uma coisa nova, com nome, sobrenome e funcionalidade. Um pedaço de ferro, um parafuso e uma lata de tomate que viram uma escultura... Pensando um pouco sobre isso pensei que cada um de nós deveria se ver como o artesão da sua vida... Tenho aqui no meu balaio uma perna de linha de desilusão, um pedaço de alegria, outro tanto de inventividade... bom e o ruim costurados a esmo pela vida. Só que pensei aqui que cabe a nós a arte de combinar os retalhos ou peças e montar a nossa arte... se deixarmos apenas a vida decidir talvez não consigamos transformar o velho no novo, talvez não consigamos pegar um pedaço de nós que já não brilha por falta de uso e fazer com que possa brilhar de novo... com tanto que acontece na nossa vida, cada um de nós poderia se considerar rico em materia prima para a arte que queremos fazer com a nossa existência. Eu quero muito buscar em mim o que já brilhou, mesmo que por um segundo e, se não posso mais fazer brilhar do jeito que idealizei, que brilhe que outro jeito, que seja reinventado, re-adaptado, recosturado... MAS QUE BRILHE...
Escultura em ferro, vidro e osso - Carlos Tenius